Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.

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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Conhecimento de Si Mesmo


Sérgio Biagi Gregório

1) O que significa a palavra conhecer? E conhecimento de si?

Conhecimento. Diz-se da relação entre o sujeito e o objeto. O sujeito é o conhecedor e o objeto o conhecido. Daí, o problema que vem desde a antiguidade: "Em que medida aquilo que os homens se representam se assemelha àquilo que é, independentemente dessa representação?"

Conhecimento de si. É uma espécie de reflexão, ou seja, a volta do sujeito para dentro dele mesmo no afã de descobrir-se. Em termos técnicos, pode-se dizer: "O saber objetivo, isto é, não imediato nem privilegiado, que o homem pode adquirir de si mesmo". (Abbagnano, 1970)
2) Qual a origem do dístico "conhece-te a ti mesmo"?
Este dístico estava colocado no frontispício do oráculo de Delfos. Todos viam a sua inscrição, mas foi Sócrates quem pode vislumbrar o seu alcance filosófico, como demonstra o diálogo abaixo:

— Dize-me Eutidemo, estivestes alguma vez em Delfos?
— Duas vezes, por Zeus!
— Viste, então, a inscrição gravada no templo: conhece-te a ti mesmo?
— Sim, certamente.
— Esta inscrição não te despertou nenhum interesse, ou, ao contrário, notaste-a e procuraste examinar quem tu és?
— Não, por Zeus! Dado que julgava sabê-lo perfeitamente: pois teria sido difícil para eu aprender outra coisa caso me ignorasse a mim mesmo.
— Então pensas que para conhecer quem somos, basta sabermos o nosso nome, ou que, à maneira dos compradores de cavalo que não crêem conhecer o animal que querem comprar antes de haver examinado se é obediente, teimoso...
— Parece-me, de acordo com o que acabas de dizer-me, que não conhecer o próprio valor equivale a se ignorar a si mesmo.
— Os que se conhecem sabem o que lhes é útil e distinguem o que podem fazer daquilo que não podem: ora, fazendo aquilo de que são capazes, adquirem o necessário e vivem felizes; abstendo-se daquilo que está acima de suas forças não cometem faltas e evitam o mau êxito; enfim, como são mais capazes de julgar os outros homens, podem, graças ao partido que daí tiram, conquistar grandes bens e livrar-se de grandes males... Contrariamente, caem nas desgraças. (Xenofonte, Memoráveis, IV, II, 26.) (Sauvage, 1959)
3) Como se passou do grego (gnôthi seauton) para o latim (nosce te ipsum)?
O enfoque grego tinha por objetivo a volta do sujeito sobre si mesmo. Sócrates falava, inclusive, de tomar consciência da sua ignorância. Conhece-te a ti próprio. Quando esta palavra foi traduzida para o latim, ela tomou um cunho moralista, ou seja, um modo de se aperfeiçoar moralmente, desviando-se do seu sentido inicial.
4) Conhecimento de si e autoconsciência são a mesma coisa?
Não. Conhecimento de si é o saber objetivo, isto é, não imediato nem privilegiado, que o homem pode adquirir de si mesmo. Esse termo tem, portanto, um significado diferente de autoconsciência, que é a consciência absoluta ou infinita, e também de consciência, que sempre implica uma relação imediata e privilegiada do homem consigo mesmo. (Abbagnano, 1970)
5) No que se fundamenta o autoconhecimento? Como se conhecer?
O autoconhecimento fundamenta-se na concepção serena e imparcial que cada um faz de si mesmo. Nada de defesa, nada de privilégios. É uma espécie de exercício de aplicar a si o que deseja para os outros.
Podemos nos conhecer pela dor, pelo convívio com o próximo e pela auto-análise. A auto-análise, por exemplo, fundamenta-se numa cosmovisão transcendental da vida. A compreensão integral do homem se apóia em três esteios fundamentais: filosófico: paz com a verdade; o psicológico: paz consigo mesmo; religioso: paz com o ser transcendental.
6) Quais são as instruções de Santo Agostinho?
Todas as noites, antes de dormirmos, deveríamos revisar o dia para vermos como procedemos com os nossos pensamentos, palavras e atos. (Kardec, 1995)
7) Até que ponto você se conhece?

Incomodam-lhe excessivamente certos ruídos – o tique-taque do relógio, o ruído da máquina de costura...?
Quando solitário, em algum lugar, sente depressão ou tristeza?
É capaz de deixar que lhe expliquem um assunto demorado sem interromper quem fala e sem perder a paciência?
Entra, às vezes, atropeladamente em bondes, ônibus, cinemas, teatros, elevadores?
Sente preguiça de lavar-se, pentear-se, cortar o cabelo, enfeitar-se etc.
Se quebra um objeto de pouco valor, sente-se desgostoso?
Bibliografia ConsultadaABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995, perguntas 919 e 919A.
SAUVAGE, M. Sócrates e a Consciência do Homem. São Paulo, Agir, 1959.

II

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