Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.

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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

MARIA MODESTO CRAVO - Entrevistada por Wanderley S. Oliveira

 



Entrevista mediúnica sobre a humanização de nossas Casas Espíritas, com Maria Modesto Cravo, pelo médium Wanderley S. Oliveira, realizada em 16 de abril de 2009.

Como a senhora avalia esses primeiros anos do período da maioridade do Espiritismo, conforme o enfoque de Bezerra de Menezes?
A semente está plantada. A árvore será reconhecida pelos frutos conforme assevera o Evangelho.

A ideia da humanização trouxe contribuições à nossa comunidade espírita?
Sem dúvida. A humanização acolheu e motivou o idealismo que já era pulsante em milhares de corações, deixando-os mais confiantes em seus sonhos de fraternidade.

Será que entendemos o conceito de humanização trazido por vocês do mundo espiritual?
Em parte.

Por que em parte?
Humanizar é tornar humano, assumir nossa humanidade, entrar em contato com ela, retirar as máscaras da hipocrisia que por longo tempo têm nos mantido cativos de padrões e julgamentos. Humanizar é ser autêntico, saber interpretar a consciência e estudar a natureza das intenções que movem os propósitos da alma. Humanizar é ser quem somos trabalhando conscientemente para tornarmo-nos senhores de nossas vidas, donos de nossos destinos, desbravadores de nossa própria luz.

É um conceito muito amplo!A senhora acha que nós tivemos alguma melhora?
A melhora possível.

Por favor, explique.
Muitos idealistas enxergam o maior entrave para expansão das idéias da humanização nas trevas e nas organizações do Espiritismo organizado. De nossa parte, nunca tivemos dúvida de que o remédio da atitude de amor é uma receita apropriada, antes de tudo, para quem nela percebe a eficácia curativa das enfermidades morais. Para não deixar dúvidas a ninguém, vejam os desafios a serem vencidos mesmo entre os que ergueram o estandarte da maioridade do Espiritismo, desde o lançamento da obra "Seara Bendita". O remendo de pano novo é uma roupagem diferente para velhas atitudes. Quem se encantar com a grandeza das idéias humanizadoras necessita prioritariamente avaliar em si mesmo o quanto necessita de tal receituário. Sem esse exame corajoso e despojado, faremos remendos novos em panos rotos. Teremos planos e iniciativas que terão o colorido, mas não o conteúdo do humanismo cristão e legitimamente fraterno. Jesus encontrou as primeiras manifestações de traição, abandono, ofensa e negação dentro do próprio colégio apostólico. Não foram as organizações sectárias ou os adversários fora do corpo os responsáveis diretos pela tragédia do calvário, mas sim o medo de Pedro, a ilusão de Judas e a mágoa dos discípulos com o povo romano.

Então, não estamos prontos para a maioridade, dona Modesta?
Creio que nenhum de nós está pronto, meu filho. Estamos atraídos. Alguns mais dispostos. Isso já é muito. O problema não é este.

Onde o problema?
Em não enxergar isso e achar-se capacitado para as idéias novas acompanhadas de hábitos, métodos e posturas velhas. Vislumbrar a grandeza da proposta da humanização não significa que já a vivamos.

A senhora tem razão. Que sugestão nos daria sobre o assunto?
Não fazer remendo de pano novo em pano velho como nos propõe Jesus. Abriguem-se no deserto das reflexões pessoais assim como fora recomendado a Saulo, logo após ver Jesus. Vale lembrar que o próprio discípulo de Tarso, iniciou uma campanha precipitada pela divulgação dos ensinos e foi advertido por Ananias com as seguintes palavras: "- Para ser sincero - disse Ananias com a sua experiência dos homens -, acho que deves ser muito prudente nesta nova fase religiosa. É possível que teus amigos da sinagoga não estejam preparados para rece ber a luz da verdade toda. A má-fé tem sempre caminhos para tentar a confusão do que é puro." - Paulo e Estevão - segunda parte - capítulo 01 - Rumo ao Deserto Como definiria de modo prático os três ciclos de setenta anos descritos por doutor Bezerra na mensagem "Atitude de Amor"? Os primeiros setenta anos, o despertamento. O segundo ciclo, o consolo através da ação fraterna e do esclarecimento. Estamos agora no ciclo da educação. Sem esse terceiro ciclo o Espiritismo não passará de mais uma filosofia estanque.

Como são analisados por vocês no mundo espiritual os ataques às idéias saudáveis da humanização da seara espírita?
Como uma prova eloqüente do quanto a idéia é necessária. A humanização toca em uma ferida aberta de nossa caminhada espiritual, ou seja, a convivência. Se quisermos avaliar o quanto estamos em sintonia com os ensinos da Doutrina e do evangelho, é só aferir nossas relações. É na convivência que se testemunha a atitude de amor. A idéia da humanização incomodou multidões que, a exemplo da figueira estéril, só tinham as folhas do adorno religioso. O Espiritismo nos lábios e distante do coração. Cérebro congestionado de cultura doutrinária e coração contaminado pelo preconceito. Atacar, de certa forma, é uma ação defensiva quando nossas ilusões são ameaçadas.

Que pontos poderiam ser mais bem conduzidos pelos comunicadores da proposta Atitude de Amor cuja alma é a humanização da seara espírita?
Uma experiência mediúnica mais sensata e focada em resultados íntimos e não fenomênicos. Uma convivência sem idealização, com mais afeto e autenticidade. Tais lições, todavia, só poderão encontrar eco em nosso comportamento quando nos matricularmos na escola da educação dos sentimentos, reconhecendo definitivamente a extensão de nossas necessidades e o campo precioso de nossos talentos a serem desenvolvidos.

E qual sugestão nos da a respeito de nossos sentimentos?
Vou alinhar apenas duas. Elas já lhes darão muito serviço nesta vida. Educarem-se para entender a importância da mágoa no auto-descobrimento e iniciar uma investigação profunda e perseverante para perceberem as sutis expressões da arrogância nos sentimentos. Cuidando dessas duas vertentes morais de aprimoramento, estarão aplicando um tratamento eficaz contra uma das mais velhas enfermidades do coração na nossa trajetória milenar: a compulsiva necessidade de apropriação da verdade, o nosso personalismo enfermiço.

Por que queremos ser os donos da Verdade, dona Modesta?
Queremos ser donos da verdade, porque é muito mais fácil acomodar-se em limites que nos causam a sensação de conforto e segurança. Ter que avançar, romper com idéias e conceitos, ter a coragem de arriscar e experimentar é algo incomodo. Ir além dos nossos limites é aterrorizante para a maioria de nós. Nenhum de nós, a pretexto de progresso, precisa se violentar. A mente estabelece limites e não permitirá que ultrapassemos as linhas da sanidade. Entretanto, aqui estamos falando do ócio mental, a tendência humana de apegar-se a convenções socialmente aceitáveis pela maioria, a fim de nos proteger do movimento dinâmico e inestancável do progresso. Esse dinamismo implica em esforço de mudança. Coragem para fazer escolhas. Reavaliação de pontos de vista. Arriscar para aprender. Rmper com o conhecido e desvendar o ignorado. Recomeço quantas vezes necessárias for. Qual de nós está disposto a tanto? É muito ameaçador ter que contrariar nossos próprios conceitos. Mais fácil é se agarrar a eles como sendo a expressão da verdade a admitir que possamos estar em equivoco. Isso se chama zona de acomodação. Quem está nela alimenta-se de apego, intolerância, julgamento e inveja. Nossa compulsão pela propriedade da verdade tem algo a ver com nossa necessidade de proteger-nos dos chamados que a vida nos faz a cada instante da caminhada. Jesus, diante de Pilatos, não respondeu o que é a verdade, por reconhecer o traço de apatia que caracterizava seu ser indolente. Para Pilatos daria muito trabalho ser justo com Jesus.

Como considerar se o que os homens fizeram pela organização do Espiritismo atende ou não aos imperativos da obra do Cristo? Enfim, os trabalhos nesses 150 anos da doutrina, foram pelo cristo ou pelo nosso personalismo?
Inegavelmente, muito foi feito pela expansão dos conceitos espíritas no mundo. A Doutrina foi a mais beneficiada com a história do movimento espírita brasileiro. Sob esse enfoque, o esforço generoso de milhares de corações construiu uma obra que se afina com o coração do Cristo em identidade de propósitos. Entretanto, no que tange a aplicação da Doutrina em nosso campo de vida pessoal, a invigilância, quase generalizada, semeou abundantemente o joio na leira de Jesus. A pergunta básica que nós devemos fazer constantemente para que essa aferição seja realizada com proveito real, é a seguinte: que benefícios espirituais legítimos construímos pela nossa própria paz consciencial? Algumas indagações do próprio Jesus precisam ser relembradas para nos ajudar a pensar esse tema: "Que fazeis de especial?", "Que adianta ao homem ganhar todo o mundo e perder sua alma?"

O que a senhora acredita que deveríamos ter feito na implantação histórica do movimento espírita?
Prestado mais atenção ao livro Paulo e Estevão.

Por quê?
Porque o benfeitor Emanuel, a pedido do Mais Alto, o escreveu, prevendo as lutas que o movimento espírita atravessaria e cujos reflexos podem ser claramente percebidos nos dias atuais. Paulo foi o mensageiro da libertação da mensagem evangélica. Espalhando a semente da Boa Nova entre os povos, ele fez o trabalho de guardar nos celeiros do coração puro o alimento farto da liberdade de pensar e do respeito às diferenças, para que no inverno das provações a leira do Cristo não amargasse a falência. Saindo de Jerusalém, onde o broto tenro do Evangelho nascente foi asfixiado pelo convencionalismo estéril, ele garantiu a semeadura livre e farta. A tarefa da humanização entre nós os seguidores de Jesus significa, antes de tudo, o desafio de superar nossas tendências de separatismo e desconfiança, aprendendo a construir uma relação protetora, mas também fraterna, cuidadosa, todavia, rica em afeto espontâneo. Ninguém é obrigado a título de humanizar as relações perder sua identidade ou guardar submissão. Compete-nos o discernimento em assuntos de convivência fraternal. A união nos laços de fraternidade solicita-nos desprendimento e trabalho em muitos lances do caminho. O trabalho de desapegar-nos de nossos pontos de vista para garantir os melhores sentimentos que possuímos uns em relação aos outros. Paulo de Tarso, convencido da interferência judaica na Casa do Caminho, agiu sempre com larga generosidade amealhando recursos materiais e espirituais para sustentar os serviços de Pedro e dos demais servidores da obra em Jerusalém.
Diante deste quadro, mais que nunca fica a interrogação de nosso Mestre: "Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?" - Mateus, 5:46.


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