Já os magnetizadores da primeira metade do século passado haviam notado que os sonâmbulos não só percebiam o pensamento das pessoas com quem se punham em relação, sob a forma de imagens geralmente localizadas no cérebro,com também, eventualmente, fora dele, e mais ou menos imersos na aura da pessoa que, na ocasião, tinha na mente o pensamento correspondente à imagem.
Ainda agora, nos tempos que correm Maria Reynes, clarividente sonâmbula, e célebre pelas investigações do Dr.
Pagenstecher sobre as suas faculdades psicométricas, deu a seguinte resposta a uma pergunta do seu hipnotizador: Quando me ordenam que veja, percebo o interior de meu estômago e nele, nitidamente, a úlcera que me atormenta, sob a forma de sangrenta mancha vermelha. Vejo a forma do meu coração e sinto-me capaz de ver o cérebro do doutor, desde que mo ordene.
Assim foi que, muitas vezes, lhe vi no cérebro a imagem radiosa da sua genitora, bem como de pessoas outras nas quais ele estava pensando, sem mo dizer.
E sempre que assim sucedia, confessava-me ele que as imagens por mim percebidas eram perfeitas.
Os teósofos, que têm sempre muitas observações a respeito das formas do pensamento, afirmam apoiados em declarações de seus videntes -entre eles Annie Besant e
Leadbeater - que as ditas formas do pensamento não se restringem às imagens de pessoas e coisas, mas atingem as concepções abstratas, as aspirações do sentimento, os desejos passionais, que revestem formas características e estranhamente simbólicas .
A este respeito, importa acentuar que as descrições teosóficas desse simbolismo do pensamento estão em surpreendente concordância com as dos clarividentes sensitivos.
Vamos aqui resumir o trecho de um livro (Thought-formes) de Annie Besant e Leadbeater, para compará-lo depois a uma outra passagem tomada às declarações de um sensitivo clarividente. Eis o que a respeito diz esses autores: Todo pensamento cria uma série de vibrações na substância do corpo mental, correspondentes à natureza do mesmo pensamento, e que ai combinam em maravilhoso jogo de cores, tal como se dá com as gotículas de água desprendidas de uma cascata, quando atravessadas pelo raio solar, apenas com a diferença de maior vivacidade e delicadeza de tona.
O corpo mental, graças ao impulso do pensamento, exterioriza uma fração de si mesmo, que toma forma correspondente à intensidade vibratória, tal como o pó de licopódio que, colocado sobre um disco sonante, dispõe-se em figuras geométricas, sempre uniformes em relação com as notas musicais emitidas.
Ora, este estado vibratório da fração exteriorizada do corpo mental, tem a propriedade de atrair ai, no meio etéreo, substância sublimada análoga à sua.
Assim é que se produz uma forma pensamento, que é, de certo modo, uma entidade animada de intensa atividade, a gravitar em torno do pensamento gerador...
Se este pensamento implica uma aspiração pessoal de quem o formulou- tal como se dá com a maioria dos pensamentos - volteia, então, ao derredor do seu criador, pronto sempre a reagir benéfica ou malèficamente, cada vez que o sinta em condições passivas.
Estranhamente simbólicas as formas do pensamento, algumas delas representam gràficamente os sentimentos que as originaram.
A usura, a ambição, a avidez, produzem formas retorcidas, como que dispostas a apreender o cobiçado objeto.
O pensamento, preocupado com a resolução de um problema, produz filamentos espirais.
Os sentimentos endereçados a outrem sejam de ódio ou de afeição, originam formas-pensamentos semelhantes aos projéteis.
A cólera, por exemplo, assemelha-se ao zigue-zague do raio, o medo provoca jactos de substância pardacenta, quais salpicos de lama.
Outro sensitivo clarividente, Sr. .E.A. Quinton, também nota, a propósito das suas visualizações de pensamentos alheios, o seguinte:
Em três grupos podem ser subdivididas as formas pensamentos por mim percebidas: - as que revestem o aspecto de uma personalidade, as que representam qualquer objeto e as que engendram formas especiais...
As inerentes aos dois primeiros grupos explicam-se por si mesmas; as do terceiro, porem, requerem esclarecimento.
Um pensamento de paz, quando emitido por alguém profundamente compenetrado desse sentimento, torna-se extremamente belo e expressivo.
Um pensamento colérico, ao contrário, torna-se tão repugnante, quanto horrível.
A avidez e análogas emoções, por sua parte, originam formas retorcidas, curvas, semelhantes às garras do falcão, como se as pessoas que as emitem desejassem algo
empalmar em benefício próprio. (Ligth, 1911, pág. 401).
Pelo visto, destas declarações ressalta a concordância de clarividentes e teósofos, no afirmarem que os impulsos pessoais da ganância e análogos desejos originam formas tortuosas do pensamento.E uma circunstância notável, essa.
Naturalmente, no que diz com a realidade das formas abstratas do pensamento, não possuímos, até agora, outra prova além da resultante da uniformidade dos testemunhos de diversos clarividentes.
Todavia, apresso-me a declarar que, para as afirmações dos sensitivos, relativamente às formas concretas do pensamento -, isto é, pensamento-forma representando pessoas ou coisas - tem na fotografia uma prova absoluta, de vez que a chapa as registra.
Somos, destarte, levados a conceituar lògicamente a declaração dos videntes, no que concerne às formas do pensamento abstrato.
E de fato já se tem demonstrado que, quando sonhamos com qualquer pessoa ou coisa, estas se concretizam em imagem correspondente.
Assim, tudo contribui para a suposição de que as ideias abstratas também devem concretizar-se em alguma coisa que lhes corresponda.
Resta ainda falar de um traço característico, ou faculdade que as formas do pensamento podem apresentar qual a de, em circunstâncias especiais, subsistirem por mais ou menos tempo no ambiente, ainda que deste se tenha afastado, ou mesmo falecido, a pessoa que os engendrou.
E o que em linguagem metapsíquica se chama persistência das imagens.
Vou citar alguns exemplos deste gênero.
Neste primeiro episódio, as imagens pensadas ficam apenas algumas horas no ambiente em que foram engendradas.
Este fato; respiguei-o da preciosa obra de Vicem Turvey - The Beginninq of Senshvp - na qual o autor analisa as próprias faculdades de clarividente sensitivo e médium. Antes de tudo, advirto que Turvey, falecido muito jovem, em consequência de uma tuberculose, era um perfeito cavalheiro, instruído e rico, que, prevendo o seu prematuro passamento, perseverou até ao fim no exercício gratuito das faculdades mediúnicas, a prol da causa espiritualista. Sempre que ocorriam fenômenos ou incidentes importantes, tinha ele ocuidado de obter dos experimentadores uma resenha dos fatos, e, assim, utilizando essa documentação para ilustrar a sua obra, conferiu-lhe valor científico.
Essa obra contém vários casos de visualização de formas-pensamento, entre as quais esta:
No dia 26 de Fevereiro de 1908, bateu-me à porta um distribuidor de brochuras e revistas da Sociedade de propaganda cristã, e acabou por conseguir que eu lhe comprasse um número da revista, a título de experiência.
De pronto, despertou-me atenção um artigo sobre o Espiritismo, no qual não se contestava a realidade dos fatos, mas atribuía-se-lhes uma origem diabólica.
Mandei entrar o visitante e logo engajamos, a propósito, viva controvérsia.
Por fim, com sois acontecer nestes casos, cada qual se retirou na suposição de haver batido os argumentos contrários.
Assim, não se retirou o adversário sem elevar a Deus uma prece, para que me abrisse os olhos à verdadeira luz .
Quereria com isso dizer me fosse aniquilada a diabólica faculdade da clarividência -, que sem embargo foi, desde os tempos mais remotos, o sinal dos servos e profetas de Deus -,
e esclarecido o meu espírito de modo conformativo com as opiniões dele suplicante.
Isto feito, lá se foi, assegurando-me que dali por diante os diabos ficavam expulsos de minha casa.
Pouco depois, recostava-me ao sofá, para repousar e meditar, e eis que repentinamente me surgem três diabinhos, absolutamente idênticos ao tipo ortodoxo: - corpo humano, pés de bode, pequenos chifres atrás das orelhas, cabelos lanudos, quais os dos negros, tez cobreada.
Francamente, confesso haver sido de susto a minha primeira impressão, e creio que o mesmo sucederia a qualquer outro observador.
Meu primeiro cuidado foi erguer-me, para melhor certificarme de que não estava sonhando.
Sem embargo, lá estavam os diabinhos!
Alucinação. . . quem sabe? Mas a coisa era, nem mais nem menos, idêntica, ao que se dava quando eu divisava os
espíritos, nas sessões mediúnicas -, Espíritos esses, sempre identificados por um assistente.
Concentrei-me, então, no intuito de atingir o estado que denomino -condição superior, graças à qual as faculdades clarividentes se me tornam mais latas do que quando as utilizo em público. Conseguido o meu desideratum, não tardou percebesse que os tais diabinhos não passavam de formas efêmeras, como se fossem figuras de papelão.
Os Espíritos-guias sugeriram-me, então, uma sentença cujo sentido ora me não corre, e que teve a virtude de desintegrar e dissolver instantaneamente os tais diabinhos.
Para dar idéia do seu desaparecimento, direi que eles se transformaram em pequenas nuvens, semelhantes à fumaça do alcatrão.
E assim me exprimo por serem tais a cor e o cheiro dessas formas-pensamento,engendradas por um indivíduo que, de boa fé, acreditava houvesse Deus criado seres maléficos com pés de bode só intuito de atormentara Humanidade.
Estas formas-pensamento aparecidas a Turvey, posto que curiosas, interessantes, devido às circunstâncias especiais em que se produziram, são na realidade absolutamente idênticas
às formas percebidas pelos clarividentes.
Apenas, como já o disseram, elas apresentam o traço característico, assaz raro, de haverem persistido algum tempo no ambiente em que foram engendradas, o que depende da intensidade do pensamento emitido.
E daí, observar-se que, habitualmente, as formas persistentes por longo tempo são as que se prendem a situações emocionantes, tràgicamente intensas no agente
provocador.
E' provável, portanto, que certas aparições de fantasmas, inertes e sem vida nos sítios mal-assombrados, não passem de formas-pensamento engendradas na mente da pessoa tràgicamente falecida em tais sítios. Importa frisar que nos repositórios de comunicações mediúnicas, desde Allan-Kardec a Stainton Moses, encontram se mensagens de entidades espirituais com alusões à possibilidade de formas fantasmáticas, ou assombrações, que são
puras formas de pensamento. Esta possibilidade é também confirmada em certos casos, a posteriori, pela contraprova da identificação pessoal da forma-pensamento percebida.
Assim, por exemplo, no seguinte caso extraído da obra de Myers, tratando da Consciência Subliminal. (Procealings of the S. P. R., vol. IX, pág. 79).
No caso ocorrente a médium era a senhorita A. . . , muito distinta e instrui da, perfeitamente a par dos métodos de investigação cientifica, que permitem o resguardo das
sugestões inconscientes.
Convidada pela condessa Radmor, em sua residência de Longford, obtivera, no curso de uma experiência de escrita automática, a seguinte comunicação oriunda da entidade Esteie, que habitualmente se manifestava por seu intermédio.
- Perguntas-me o que vejo neste ambiente. Aqui o tens: vejo muitas sombras e alguns Espíritos; vejo, igualmente, um certo número de coisas refletidas. Saberás informar-me se no quarto de cima morreu alguma criancinha mais ou menos de repente?
- Porque mo perguntas?
- Porque diviso constante, a sombra de uma criancinha lá no quarto junto ao teu.
- Mas, é só uma sombra?
- Sim, exclusivamente.
- Que queres com isso dizer?
- Que uma sombra se forma quando alguém pensa de modo intenso e constante em outra pessoa, gravando-se assim, no meio ambiente, a sombra e a recordação do pensamento.
E uma forma objetiva do pensamento, o que, por conseguinte, me leva a crer que os pretensos fantasmas dos assassinados, como dos que sucumbem de morte violenta são, mais das vezes, sombras ou imagens, que não Espíritos confinados.
E antes a consequência do pensamento do assassino, que, obsidiado pela idéia do crime cometido, projeta exteriormente a sombra ou imagem da sua vítima.
Ao demais, seria para lamentar que as almas sofredoras, depois de haverem sofrido no mundo, fossem quais fossem as
suas faltas, ainda devessem penar aqui, sob a forma de espíritos confinados.
Não esqueças, contudo, que estes existem realmente e são numerosos.
A propósito, assim se externa à condessa Radmor. Com referência à comunicação supra, confirmo a morte de um irmãozinho de tenra idade, em consequência de convulsões e precisamente no quarto inculcado pela presença das formas. O que não posso atinar é como a senhorita A. . .
Pode adivinhar, e, sobretudo, indicar o quarto em que se dera o falecimento.
Esta declaração da condessa patenteia que o caso em apreço equivale a uma prova de identificação pessoal, confirmativa das afirmações da personalidade mediúnica.
Assim se demonstra o bom fundamento da tese por nós sustentada, concernente à realidade objetiva das formas pensamento, e a possibilidade da sua persistência mais ou menos
longa nos ambientes em que se formam desse modo originando um grupo especial de fantasmas assombradores. -
E também de notar que no livro recente de H. D. Bradley -Towards the Stars, encontram-se declarações idênticas, provenientes de personalidades mediúnicas, através dos
célebres médiuns Srs. Osborn Leonard e Travers-Smith.
Eis, por exemplo, o que diz a personalidade mediúnica de Johannes, pelo médium Leonard:
E preciso, em primeiro lugar, explicar-te o em que consistem os fantasmas em questão.
São fantasmas do vosso cérebro. Não são espírito nem matéria.
Consistem num elemento de atividade intelectual, que deixou atrás dela a sua impressão.
Só os possuidores de faculdades psíquicas muito desenvolvidas podem perceber essas formas-pensamento.
Perguntas-me porque alguns desses fantasmas se formam em determinados meios e não noutros, onde mais lógica, seria a sua aparição. E que o fenômeno depende da intensa
vitalidade da idéia geratriz. Uma prisão, um manicômio, são indubitàvelmente os ambientes menos suscetíveis de assombramentos, porque também mais desertos de esperanças
e atividades vitais.
Muito mais provável é, portanto, que o fantasma de um assassino assombre o local do seu crime do que o de sua execução quando condenado pela justiça humana.
E Astor, o Espírito-guia de Travers Smith, adverte por sua vez:
Os fantasmas, isto é, as formas-pensamento, aparecem às vezes espontaneamente, devido a emoções terríveis, conjugadas ao pavor que lhes causam os elementos necessários à sua exteriorização. Assim aí compreendes não seja a Torre de Londres um lugar assombrado. Tendo sido um presídio, parece-me, vale por um ambiente no qual a mentalidade dos encarcerados se tornava obtusa, devido à triste monotonia da própria condição, desprovida de qualquer sentimento emocional ou passional, ou seja, assim um estado de desesperação resignada. E o desespero não é elemento propício à formação de fantasmas.
Antes de passar a outro assunto, vou ainda relatar um episódio cuja interpretação é, antes do mais, embaraçante.
O Sr. Joseph Briggs publicou a ata de uma sessão realizada em sua casa, com a famosa médium Sra. Everitt, criatura rica, que apenas trabalhava por amor à causa.
Omito as manifestações obtidas, para só tratar de que nos
interessa. Diz o narrador: Notável incidente veio misturar-se às manifestações,
quando um dos assistentes, dotado de clarividência - o Sr. Aron Wilkinson -, exclamou de repente: rum papagaio pousa me no ombro e agita as asas... Agora, voou sobre a Sra.
Everitt... (A Sra. Everitt estava assentada do outro lado da
mesa) . Ela declara, por sua vez, estai sentindo o contacto da ave.
Wilkinson continua: Agora o papagaio canta o God Save the Queen (o hino real). Agita novamente as asas, sobe, ei-lo que se foi.
Episódio incompreensível para todos, menos para a Sra. Everitt, que logo o explicou, contando que havia meses se incumbia de guardar um papagaio, que muito se lhe afeiçoara.
Ainda na véspera recebera de casa uma carta, na, qual lhe informavam que o bicho aprendia ràpidamente a cantar o hino real.
Todos os presentes ignoravam o fato e há a considerar que a Sra. Everitt reside em uma província distante. Este incidente é único no rol de minhas experiências. (Light, 1903, pág. 492). Não há dúvida de que o episódio em apreço se explica por um fenômeno de objetivação do pensamento subconsciente da Sra. Everitt.
A circunstância de haver na véspera recebido uma canta, em que se lhe informara que o papagaio aprendera a cantar o hino a que aludira o clarividente Wilkinson, não serve senão para demonstrá-lo ulteriormente.
Não obstante, a descrição do vidente, combinada com a afirmativa do médium, de lhe haver sentido o contacto, tenderia a provar a presença de uma materialização da imagem de um papagaio, e não da mera objetivação de uma forma fluídica de pensamento.
E isto é ainda mais verossímil, se considerarmos que a Sra. Everitt possuía notáveis faculdades de materialização.
Assim sendo, este episódio pertenceria à categoria dos fenômenos de ideoplastia, de que nos vamos ocupar mais adiante.
Se tratasse realmente da materialização de imagem subconsciente, dever-se-ia, contudo, notar uma circunstância primariamente excepcional: -a de serem as materializações do pensamento, com raras exceções, constantemente plásticas, ou seja, inanimadas, ao passo que, no caso vertente, o papagaio materializado teria voltejado pela sala, como se fora
um ser vivente.
Sem embargo, poder-se-ia sustentar que o fato também pode ser explicado pela ação da vontade subconsciente do médium, que poderia ter agido a distância sobre a sua própria criação ectoplásmica, determinando-lhe os movimentos.
Termino a segunda parte desta obra, advertindo que, até aqui, não se cogitou senão de modalidades de objetivação de pensamento que não fossem suscetíveis de demonstração experimental, pròpriamente dita.
Doravante, porém, nossas pesquisas se prenderão a duas categorias de fatos, graças aos quais atingimos a prova experimental científica da existência incontestável de uma projeção objetivada das formas pensamento, observadas pelos videntes.
Assim, constataremos ao mesmo tempo a existência provável de uma projeção objetivada do pensamento, seja nos casos alucinatórios provocados por sugestão hipnótica, seja nos de alucinação espontânea ou voluntária entre os artistas, e, em geral, nas alucinações patológicas propriamente ditas.
LIVRO
PENSAMENTO E VONTADE
ERNESTO BOZZANO
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